quinta-feira, 3 de março de 2016

O CANTO DO GALO....

Faz cerca de 10 dias, entrevistei um grande empresário para o Cidade ocupada, meu programa na TV Gazeta de São Paulo. O tema do episódio era o racismo, e Geraldo Rufino é o que se chama de “mosca branca” – um negro em alto posto de comando, coisa tão rara quanto um mosquito albino. Lá pelas tantas, perguntei a ele, um palestrante de razoável sucesso, qual seria sua reação se fosse atacado pelos racistas assim como fizeram com Maju, a mulher do tempo do Jornal Nacional. “Eu trataria essas pessoas com carinho, porque são doentes”, ele me disse. “Eu as convidaria para vir até aqui e lhes daria um abraço.”

Até agora, tudo o que temos tentado é convencer os Cornetas na Veia de sua própria cretinice. Educadamente, explicamos a eles que o Galo não é, nunca foi e (tomara) nunca será uma empresa, torcedor não é consumidor e arquibancada não é SAC. Esse esforço de nada valeu: o sujeito pagou ingresso VIP, a produção que se desdobre para entregar um grande show. Pra esse sujeito criado no Danoninho, com uma mucama pra lhe servir e lavar a privada, não há diferença entre o Galo e um iPhone. Não funcionou, ele devolve. Na impossibilidade de devolver, esperneia. Quando ele era pequeno, deitava no chão do shopping em frente à loja de brinquedos e se debatia: “Eu quero, eu quero!!!”. Depois que cresceu, ele vaia o Atlético.

Eu só fui saber das vaias ao Aguirre quando o jogo terminou. Graças a Deus, eu tinha comprado meu ingresso na Galoucura, onde o maior problema é você achar forças pra pular e cantar 105 minutos ininterruptos depois de ter bebido 800 cervejas na Rua de Fogo. Pra conseguir essa façanha, o sujeito, além de amar o Galo, tem de fazer crossfit e ser capaz de correr pelo menos uma meia maratona. Como o meu caso é só de amor mesmo, no dia seguinte me sentia atropelado por um caminhão. Mas tava com a alma lavada: deixei o peito e a garganta no portão 6, acordei sem os dois e ainda faltando as pernas. De qualquer modo, fizemos a nossa parte.

As torcidas organizadas são sistematicamente atacadas como se fossem organizações criminosas. Mas o sociólogo Maurício Murad, o maior estudioso do assunto no Brasil, diz que os bandidos infiltrados nas organizadas não passam de 7%. Imagine que beleza se esse fosse o percentual de picaretas no Congresso Nacional, no executivo e no controle das grandes empresas que lidam com o dinheiro público. Tava todo mundo salvo.

É preciso valorizar quem vai ao estádio para torcer a favor, e não contra. As organizadas deveriam ocupar os melhores lugares do estádio, como era no velho Mineirão. Os programas de sócio-torcedor deveriam focar a contribuição ao clube e as vantagens e descontos que se obtém quando se faz a adesão. O GNV Black deveria estar no andar de cima, com vista para a festa das organizadas, que estariam distribuídas pelos espaços mais próximos ao campo. Apenas lá no alto ficariam liberados o chope, o uísque, o garçom e o que mais se invente. Aqui embaixo, as faixas e bandeiras dariam a volta no “anel”.

Enquanto isso aí parece um sonho, o negócio é tentar a estratégia do negro Geraldo no trato com os racistas. Cada torcedor de verdade deve escolher um corneteiro vaiador e oferecer-lhe um afago: “Vem cá, meu querido amigo, a vida não está sorrindo pra você? Fica assim não. Eu conheço um psicanalista nota 10, tem também o Rivotril pra aliviar a alma. Tem Viagra, se o problema for dessa natureza. Mas não vaia o Galo, irmão, que isso é igual a vaiar o filho da gente na escolinha de futebol. Vem cá, meu amigo, vem me dar um abraço”.
vi no super esportes!

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